APGB e os Grupos Balint

A Associação Portuguesa de Grupos Balint (APGB) é uma associação sem fins lucrativos, cujo objetivo principal é incentivar a existência de Grupos Balint e a sua prática regular por médicos e outros profissionais ligados à prestação de cuidados de saúde. Através dos grupos Balint pretende-se estudar a relação médico-doente, aprender e treinar o contato emocional interpessoal, e desenvolver capacidades relacionais que melhorem a qualidade da prática médica. Além de aperfeiçoar as relações interpessoais, os grupos Balint aumentam a eficácia dos procedimentos médicos, aumentam a confiança e a satisfação do paciente, a satisfação profissional do médico e a sua autoconsciência.

Nos anos 50, na Tavistock Clinic, em Londres, sob a direção de Michael Balint, começaram as pesquisas sobre a relação médico-doente no seio da clínica geral inglesa e o papel da personalidade do médico na relação terapêutica. Michael Balint deu início a um conjunto de seminários com narrativa e discussão de casos e com foco na abordagem dos problemas psicológicos intrínsecos à prática médica e à relação médico-doente, que visavam a procura de respostas para inúmeras perplexidades de médicos de clínica geral, unicamente treinados no tradicional modelo biomédico de ensino. Foram estes seminários que deram origem ao que hoje chamamos Grupos Balint. Toda a investigação e experiência recolhida está publicada no livro “The doctor, the Patient and the ilness”, de 1956 e no “A study of doctors” de 1966.

Em Portugal, na década de 90, um núcleo de médicos e psiquiatras iniciou a aprendizagem e o treino em metodologia Balint. Entretanto, e de acordo com as regras adotadas na International Balint Federation, iniciaram-se grupos em Portugal, o que levou à constituição da Associação Portuguesa de Grupos Balint (APGB), no dia 10 de Março de 1993, na cidade do Porto. Em numerosos países existem associações semelhantes, federadas na International Balint Federation (IBF), a qual possui um site na Internet em www.balintinternational.com , com links para as referidas organizações nacionais. Enorme acervo bibliográfico vem enriquecendo a teoria e a prática balintiana, desde esses anos da década de 50 do século passado.

O treino é realizado, idealmente, em grupos de 8 a 12 pessoas. Os participantes adquirem conhecimentos teóricos e aprendem a reconhecer reações emocionais, atitudes e padrões de comportamento e ainda como lidar com o paciente difícil. Possibilita o reconhecimento do significado de sinais ocultos no meio da comunicação não verbal, como também o diferente valor desses sinais para pessoas diferentes. Possibilita a aquisição de capacidades para controlar as emoções e a consciencialização dos próprios mecanismos defensivos. Isso permite que os médicos ganhem confiança, auto-estima e satisfação profissional. A frequência dos grupos Balint estão ainda relacionados com maior compreensão empática dos casos, com maior assertividade no diagnóstico holístico, aumentando a eficácia do tratamento e evitando conflitos desnecessários.

Com base em normas da Comissão Científica da Associação Portuguesa de Grupos Balint, o treino realizado sob a supervisão da IBF é reconhecido como o único que dá direito à gestão qualificada de grupos Balint.

O conhecimento e o treino da comunicação emocional entre um profissional de saúde e um paciente são necessários para o pleno uso dos benefícios da medicina. Em muitas universidades, o programa Balint já é um elemento regular dos estudos médicos. È um desejo da APGB que o desenvolvimento de relação médico-doente possa ser incluído nos programas das escolas médicas em Portugal, para que todos os médicos tenham a oportunidade de aprender e dominar a resposta emocional e usá-la para o bem da própria saúde e do paciente.